terça-feira, 26 de junho de 2012

Richelieu ou Oxford



O Cardeal de Richelieu é mais conhecido pela sua participação na construção do absolutismo na França do século XVII. Como seu nome passou a designar um tipo de sapato masculino bastante elegante, isso sinceramente eu não sei. 

Os franceses chamam de Richelieu o mesmo tipo de sapato conhecido em outras línguas como Oxford. O Richelieu, ou Oxford, se diferencia do Derby pela ausência das abas laterais por onde se passa o cadarço.

sábado, 23 de junho de 2012

Sapatos: Brogue, Oxford, e Derby

Revista Esquire - década de 1940

Certa vez enviei para a seção de cartas da Playboy um comentário sobre sobre sapatos masculinos. A mensagem não foi respondida, mas não me incomodei com isso. Afinal, os editores devem receber todos os dias centenas de mensagens como a que enviei. Contudo, não faz muito tempo, deparei-me com o site de um dos editores da revista. Ele gentilmente se refere a mim como "especialista em sapatos". Devo enfatizar, porém, que isso realmente não é o caso. Mas o seu artigo faz uma alusão ao comentário que não chegaram a publicar. A simpática matéria de Rircardo Oliveros tem como título "Veja como usar o tradicional sapato Oxford de maneira moderna".

Sapatos, em todas as suas variações, são com certeza o item mais nobre na cultura da elegância clássica masculina. Talvez por isso seja importante desfazer aqui algumas confusões recorrentes em reportagens e propagandas sobre sapatos. Começo retomando comentário que enviei à revista Playboy

Oxford semi-brogue

“Brogue” e “oxford” são categorias bem diferentes entre si. "Brogue" designa simplesmente aquele perfurado decorativo que alguns sapatos apresentam. Em inglês britânico, dependendo da extensão dos motivos perfurados, fala-se em “brogue”, “semi-brogue”, ou “full-brogue” (esse último os americanos denominam “wing-tip brogue”). Nada impede, portanto, que um sapato seja ao mesmo tempo do tipo “brogue” e do tipo “oxford” ou "derby". 

Oxford full-brogue

Um sapato do tipo “oxford” designa o mesmo tipo de sapato que os franceses denominam “Richelieu”, e os alemães “geschlossene Schnürung”. Um “derby”, por sua vez, é o que os americanos chamam de “blucher”; os franceses denominam derby; e os alemães chamam de “offene Schnürung”. 

Quando se fala sobre estilos de sapatos, a comparação que geralmente se faz é entre “oxford” e “derby”, e não entre “oxford” e “brogue”, uma vez que tanto os "derby" quanto os "oxford" podem ser decorados com “brogue”.
 Derby (ou blucher) semi-brogue

É fácil notar a diferença entre um “oxford” e um “derby”: no “derby” a parte onde se situam os orifícios por onde se passa o cadarço está em uma aba de couro que se costura sobre o corpo do sapato. No "oxford" não há esse elemento, pois os furinhos para o cadarço são feitos diretamente sobre o corpo do sapato. O que se vê então no "oxford" é praticamente uma única superfície que acompanha todo o formato do pé. É por essa razão – por realçar o formato do pé de modo contínuo – que o “oxford” é considerado mais elegante e mais formal do que o “derby”. Vestir, por exemplo, um smoking calçando um “derby” constitui uma espécie de crime contra a elegância.

Mas os modelos do tipo "oxford", comprados em sapatarias, por oposição aos confeccionados sob medida, têm uma desvantagem: se seu pé for muito alto, na hora de amarrar, a parte do sapato sob o cadarço vai formar uma espécie de “V”; ou seja, as duas carreiras de orifícios não ficarão paralelas. Isso é um indício de que o sapato não é para o seu pé. Se, pelo contrário, seu pé for relativamente baixo, as duas carreiras de furinhos tendem a se sobrepor uma sobre a outra. Isso resulta num efeito bastante deselegante. Além disso, o sapato pode até mesmo sair do seu pé enquanto caminha, pois não adianta puxar o 
cadarço e amarrar bem apertado o sapato porque ele não ficará firme no lugar.

Para a indústria de calçados, no entanto, o “oxford” é uma dor de cabeça, uma vez os fabricantes têm de levar em consideração não apenas o cumprimento do pé, mas também a sua altura. Esse tipo de problema não ocorre com o “derby”, pois ele se adapta bem a praticamente qualquer altura que o pé possa ter. É por essa razão que nas sapatarias a quantidade de sapatos do tipo “derby” costuma ser muito superior aos do tipo “oxford”.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Roupas de mármore e bronze sob medida...

Estátua de Dom Pedro II em Sergipe - Obra de Leo Santana, 2006

Para a história da elegância clássica masculina, estátuas são, em minha opinião, um material fascinante, pois a maior parte do bronze ou do mármore que se vê dão forma não tanto à pessoa figurada, mas à roupa que ela veste. É como se, para o escultor, a obra se transformasse em uma peça de alfaiataria. Mas isso exige, evidentemente, atenção às formas e proporções específicas de cada tipo de vestimenta.

carreira vertical de botões ausente

Em uma estátua de Dom Pedro II em Sergipe há uma falha que certamente não teria escapado aos olhos dos contemporâneos do último imperador. A estátua deveria ser reconduzida ao ateliê do escultor como quem devolve um paletó defeituoso ao seu alfaiate. Ela mostra Dom Pedro II com um colete tipo "jaquetão”, que deveria, portanto, ter duas carreiras verticais de botões. Contudo, vê-se apenas uma das carreiras de botões na obra. Para que a outra carreira de botões estivesse oculta sob a casaca, o colete teria de ter outras proporções.

Colete com duas carreiras de botões

Goethe e Schiller (à direita) em Berlim

Detalhe do colete tipo jaquetão de Schiller
As imagens acima - a de um busto desconhecido, e a da estátua de Goethe e Schiller em Berlim - ilustram bem o que quero dizer: repare que tanto no busto quanto na estátua de Schiller (à direita) vê-se um colete tipo jaquetão, com as duas carreiras de botões bem visíveis, diferentemente do que ocorre com a estátua do pobre do Dom Pedro II.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Dom Pedro II e a Elegância da Época Vitoriana


Livro de Marcelo de Araujo

Resultado de uma pesquisa muito bem cuidada, este livro de Marcelo de Araujo reconstrói a vida do último imperador do Brasil a partir da perspectiva das roupas que ele costumava vestir. O livro apresenta uma generosa seleção de fotos e ilustrações e conta ainda com o exame de documentos até então inéditos na historiografia sobre Dom Pedro. O resumo do livro disponível no site da Editora Estação das Letras diz o seguinte:

"Dom Pedro II, como notaram vários contemporâneos do último imperador do Brasil, não era especialmente elegante. Mas ele, como nenhum outro expoente da política brasileira, soube exprimir suas convicções políticas e morais através das roupas que vestia. Casacas, sobrecasacas, cartolas e guarda-chuvas foram recorrentemente usados pelo imperador com o intuito demonstrar sua simpatia pelo regime republicano. Até mesmo a deliberada utilização de gravatas que entravam em conflito com o dress code da aristocracia europeia era um dos artifícios a que o imperador costumava recorrer com o fito de exprimir sua aversão à pompa da monarquia. Este livro procura reconstruir alguns aspectos da biografia de Dom Pedro II à luz da história da indumentária masculina no contexto do século XIX. Servindo-se de uma rica seleção de fotos e ilustrações, e recorrendo a documentos inéditos, que incluem, por exemplo, uma listagem detalhada das encomendas do imperador na mais renomada casa de alfaiataria inglesa do século XIX, o autor analisa o poder simbólico que as roupas exerciam na constituição da imagem de um dos mais singulares monarcas do período vitoriano."