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domingo, 26 de maio de 2013

Contraforte danificada

seis pares da última autêntica sapataria do Rio de Janeiro

O objetivo era apenas ilustrar neste blog o estrago na contraforte. Vocês devem se lembrar: a contraforte é aquela parte de trás do sapato sobre a qual se desliza o calcanhar. Sem o uso regular da calçadeira, a contraforte tende a ser pressionada, amassada, e gradualmente danificada ao calçarmos os sapatos. Mas a foto que tirei acabou revelando mais do que o infortúnio nos calçados de algum incauto cliente.

O espelho na lateral do balcão flagrou o inesperado. Eu havia acabado de experimentar um par de sapatos que encomendara para usar em casa. O couro na cor ferrugem quase se confunde com o verniz do piso de madeira que tenho na sala. O estalo que eles fazem contra o piso é prova de que também com os ouvidos se apreciam bons sapatos. A sapataria em que foram criados é a melhor, talvez a última para encomenda de autênticos sapatos sob medida no Rio de Janeiro. 

No final das contas, sem querer, a foto registrou seis gêmeos da melhor sapataria da cidade. - Só é preciso agora não esqueçer a calçadeira!

sábado, 14 de julho de 2012

Contraforte e Calçadeira

corte longitudinal do sapato

A parte do sapato que protege o calcanhar não poderia ter outro nome: "contraforte". Ela está submetida a um esforço extra, pois ajuda a impedir que o sapato se solte do pé. Além disso, a contraforte é importante para uma proteção adequada do calcanhar. Mas apesar do nome, a contraforte não é indestrutível. Pelo contrário, a falta de cuidado com os sapatos a torna especialmente vulnerável, pois muita gente na hora de se calçar acaba pressionando a contraforte para baixo com o pé. Isso pode danificá-la irreversivelmente. 

calçadeiras em chifre polido

A durabilidade da contraforte, e o conforto na hora de calçar os sapatos, dependem de uma medida bastante simples: a utilização da velha e tradicional calçadeira. A calçadeira deve estar sempre à mão na hora de se calçar. Algumas das melhores marcas de sapatos costumam adicionar uma calçadeira à caixa de sapatos, para evitar que eles se deformem prematuramente. As calçadeiras mais simples são de material barato como plástico ou aço inoxidável. Mas algumas calçadeiras são mais elaboradas, em chifre, bambu, ou mesmo prata com cabo de madrepérola, para os mais exigentes.

calçadeira de cabo longo: ideal para idosos
O uso de calçadeiras é especialmente importante na hora de calçar sapatos do tipo oxford ou wholecut, já que eles não possuem as abas laterais, típicas do sapatos do tipo derby. Uma calçadeira de cabo mais extenso permite que você calce os sapatos sem se curvar muito, o que torna a vida idosos um pouco mais fácil nessas horas.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Oxford ou Whole-Cut?

wholecut da marca Berluti

Não deixa de ser uma espécie de oxford, mas o "whole-cut" é diferente do oxford em um detalhe fundamental: como a própria palavra sugere, ele é feito sem emendas ou costuras. Daí o nome: "cortado por inteiro". Ele é menos visto nas sapatarias, em primeiro lugar, porque exige em sua confecção mais material do que outros modelos, já que ele não pode ser feito com sobras menores e retalhes do material cortado para outras partes do sapato.


Uma única superfície sem emendas
Se o sapateiro cometer algum erro na hora de cortar ou montar, o material para um par do sapato vai todo embora. Além disso, o "wholecut", quando não é feito sob medida, dificilmente se ajustará ao seu pé, caso o comprimento e a altura dos pés não coincidam perfeitamente com as dimensões da forma usada para a fabricação do sapato. No caso do derby, que é o sapato mais popular nas sapatarias, basta que o comprimento do pé se ajuste, pois as abas laterais fazem com que o sapato se acomode a qualquer altura de pé. Isso tudo, evidentemente, torna o wholecut mais caro e menos frequente nas lojas.

wholecut preto? Pense duas vezes...
O wholecut costuma ter menos furos para o cadarço do que o derby ou o oxford. Os perfurados decorativos, quando presentes, costumam também ser  mais discretos, pois o efeito visual do wholecut consiste justamente em mostrar uma única superfície que se modela perfeitamente ao pé, sem emendas ou costuras. Furinhos decorativos em excesso perturbariam o visual característico do wholecut. Esse efeito é ainda mais interessante quando o sapato é bem polido.

O wholecut é um sapato bastante informal. Embora não seja incomum vê-lo também na cor preta, o wholecut preto é, na minha opinião, bem menos atrativo do que nas variações de castanho que o couro bem tratado costuma assumir.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Richelieu ou Oxford



O Cardeal de Richelieu é mais conhecido pela sua participação na construção do absolutismo na França do século XVII. Como seu nome passou a designar um tipo de sapato masculino bastante elegante, isso sinceramente eu não sei. 

Os franceses chamam de Richelieu o mesmo tipo de sapato conhecido em outras línguas como Oxford. O Richelieu, ou Oxford, se diferencia do Derby pela ausência das abas laterais por onde se passa o cadarço.

sábado, 23 de junho de 2012

Sapatos: Brogue, Oxford, e Derby

Revista Esquire - década de 1940

Certa vez enviei para a seção de cartas da Playboy um comentário sobre sobre sapatos masculinos. A mensagem não foi respondida, mas não me incomodei com isso. Afinal, os editores devem receber todos os dias centenas de mensagens como a que enviei. Contudo, não faz muito tempo, deparei-me com o site de um dos editores da revista. Ele gentilmente se refere a mim como "especialista em sapatos". Devo enfatizar, porém, que isso realmente não é o caso. Mas o seu artigo faz uma alusão ao comentário que não chegaram a publicar. A simpática matéria de Rircardo Oliveros tem como título "Veja como usar o tradicional sapato Oxford de maneira moderna".

Sapatos, em todas as suas variações, são com certeza o item mais nobre na cultura da elegância clássica masculina. Talvez por isso seja importante desfazer aqui algumas confusões recorrentes em reportagens e propagandas sobre sapatos. Começo retomando comentário que enviei à revista Playboy

Oxford semi-brogue

“Brogue” e “oxford” são categorias bem diferentes entre si. "Brogue" designa simplesmente aquele perfurado decorativo que alguns sapatos apresentam. Em inglês britânico, dependendo da extensão dos motivos perfurados, fala-se em “brogue”, “semi-brogue”, ou “full-brogue” (esse último os americanos denominam “wing-tip brogue”). Nada impede, portanto, que um sapato seja ao mesmo tempo do tipo “brogue” e do tipo “oxford” ou "derby". 

Oxford full-brogue

Um sapato do tipo “oxford” designa o mesmo tipo de sapato que os franceses denominam “Richelieu”, e os alemães “geschlossene Schnürung”. Um “derby”, por sua vez, é o que os americanos chamam de “blucher”; os franceses denominam derby; e os alemães chamam de “offene Schnürung”. 

Quando se fala sobre estilos de sapatos, a comparação que geralmente se faz é entre “oxford” e “derby”, e não entre “oxford” e “brogue”, uma vez que tanto os "derby" quanto os "oxford" podem ser decorados com “brogue”.
 Derby (ou blucher) semi-brogue

É fácil notar a diferença entre um “oxford” e um “derby”: no “derby” a parte onde se situam os orifícios por onde se passa o cadarço está em uma aba de couro que se costura sobre o corpo do sapato. No "oxford" não há esse elemento, pois os furinhos para o cadarço são feitos diretamente sobre o corpo do sapato. O que se vê então no "oxford" é praticamente uma única superfície que acompanha todo o formato do pé. É por essa razão – por realçar o formato do pé de modo contínuo – que o “oxford” é considerado mais elegante e mais formal do que o “derby”. Vestir, por exemplo, um smoking calçando um “derby” constitui uma espécie de crime contra a elegância.

Mas os modelos do tipo "oxford", comprados em sapatarias, por oposição aos confeccionados sob medida, têm uma desvantagem: se seu pé for muito alto, na hora de amarrar, a parte do sapato sob o cadarço vai formar uma espécie de “V”; ou seja, as duas carreiras de orifícios não ficarão paralelas. Isso é um indício de que o sapato não é para o seu pé. Se, pelo contrário, seu pé for relativamente baixo, as duas carreiras de furinhos tendem a se sobrepor uma sobre a outra. Isso resulta num efeito bastante deselegante. Além disso, o sapato pode até mesmo sair do seu pé enquanto caminha, pois não adianta puxar o 
cadarço e amarrar bem apertado o sapato porque ele não ficará firme no lugar.

Para a indústria de calçados, no entanto, o “oxford” é uma dor de cabeça, uma vez os fabricantes têm de levar em consideração não apenas o cumprimento do pé, mas também a sua altura. Esse tipo de problema não ocorre com o “derby”, pois ele se adapta bem a praticamente qualquer altura que o pé possa ter. É por essa razão que nas sapatarias a quantidade de sapatos do tipo “derby” costuma ser muito superior aos do tipo “oxford”.