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terça-feira, 13 de agosto de 2013

Casa Moreira: calçados sob medida feitos à mão


A Travessa do Ouvidor é uma daquelas ruelas para pedestres escondidas no Centro do Rio de Janeiro. É impossível ignorar por ali a presença de Pixinguinha reproduzido em bronze e armado de um potente saxofone. Menos visível, porém, é a loja reclusa no fundo de um estreito corredor que desemboca na mesma viela. Uma placa esculpida em madeira, pendurada sem alarde no interior da loja, explica aos desavisados: "Calçados sob medida feitos à mão."

Marcelo no comando da Casa Moreira

A Casa Moreira é uma dessas instituições cariocas que se confundem com a história da cidade. Ela dispensa propagandas em jornais ou revistas, pois tem a seu favor mais de setenta anos de tradição e uma legião de clientes. Ela é uma das únicas, talvez a última sapataria da cidade dedicada à confecção de sapatos sob medida de alta qualidade, inteiramente feitos à mão, claro. Cada par é confeccionado para um cliente específico. 

Marcelo, à frente do negócio, mede pé esquerdo e pé direito separadamente, pelo menos duas vezes para não haver erros. Ele risca o contorno da silhueta da planta dos pés sobre uma folha de papel A4. Mais tarde, com base nas medidas tiradas na loja, cada cliente terá eternizada em madeira a "estátua" dos pés, mais conhecida como "forma de sapateiro". A forma é como um cadastro em três dimensões para cada cliente. Uma vez confeccionada e ajustada, ela será a mesma, por anos a fio, independentemente do modelo escolhido pelo cliente em cada nova visita à loja. As formas de madeira são para a sapataria o que os moldes em papel são para a alfaiataria.


A Casa Moreira foi fundada em 1939, no mesmo ano, aliás, em que Pixinguinha adotou para si o imponente saxofone que o acompanharia pelo resto de suas composições. O endereço? Travessa do Ouvidor, 8, sala 101. Telefone: 21 2224-9419.

domingo, 11 de agosto de 2013

Sapatos para usar em casa (IV)

típico morador de Roma em sua residência

Há quem os prefira simples e discretos, adaptados à cor do assoalho; outros os preferem menos anônimos, gravados com as iniciais. Sapatos para usar em casa são um exercício de criatividade e imaginação. Algumas pessoas em Roma, como o senhor da foto que preferiu não se identificar, teve seus sapatos confeccionados em cor vibrante para receber com espiritualidade uma legião de amigos fieis em sua residência na Praça São Pedro. 


tante grazie...

Se você tiver sorte - e alguma influência - é até mesmo possível que alguns amigos lhe presenteiem com os melhores sapatos que as mãos humanas são capazes de fabricar. Adriano Stefanelli exerce seu ofício desde os 14 anos de idade. Na foto, Stefanelli, em um autêntico gesto de caridade cristã, oferece ao ancião que passeava despreocupado pelas ruas de Roma uma amostra de sua arte. 

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Sapatos para usar em casa (III)

sapatos leiloados em 2011

Douglas Fairbanks (o filho) atuou em vários filmes antes da Segunda Grande Guerra, e mesmo depois. A elegância com que se vestia era notória. Ele faleceu em 2000, aos noventa anos. No ano seguinte, uma vasta coleção de itens de seu guarda-roupa foi a leilão. Quem deu o lance mais alto pelo par de sapatos para usar em casas com monogramas, da foto acima, ninguém sabe ao certo. Mas o felizardo levou para casa, com certeza, um pedaço da história da indumentária no século XX.

Henry Maxwell, fundada em 1750

Os sapatos foram feitos por um outro ícone da sapataria masculina, a Henry Maxwell,  fundada em 1750, em Londres, e ainda hoje existente. A firma foi incorporada à Foster & Son em 1999, mas o endereço nos sapatos de Fairbanks  são da época em que a firma ainda atuava na Dover Street.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Sapatos para usar em casa (II)

contracapa de Churchill Style, de Barry Singer

Deve haver algo de mais interessante em um livro do que a reprodução de sua contracapa, mas é isso o que eu gostaria de mostrar a título de complemento à postagem anterior. A contracapa do livro Churchill Style: The Art of Being Winston Churchill (2012), de Barry Singer, mostra um par de slippers, ou sapatos para usar em casa, com as iniciais do famoso estadista britânico. Churchill, como se sabe, venceu muitas batalhas, perdeu algumas, mas em seu estilo ele era único e imbatível. 

O par de sapatos da contracapa foi feito - sob encomenda, claro - pelo lendário sapateiro Nikolau Tuczek, em 1950. Vejam que é importante não usar falsos eufemismos aqui: Tuczek não era um designer, mas um profissional que fez de seu ofício uma arte. Designers são uma classe inferior e bem mais recente. Eles escondem a falta de talento e os anos de experiência que lhes faltam sob a fachada de um neologismo reproduzido todos os dias em um sem número de revistas e entrevistas. Mas este blog não é sobre designers, fiquem sabendo, mas sobre alfaiates, sapateiros, camiseiros, chapeleiros e artistas, quase sempre anônimos, da elegância clássica masculina. 

A firma de Tuczek foi incorporada à não menos lendária Lobb em 1970. Mas as criações de Tuczek são, ainda hoje, disputadas em leilões na internet. Os livros de registros de sua firma poderiam talvez ser lidos como um capítulo à parte na história do século XX, pois o patronato de Churchill aparece junto ao de outros monumentos de uma era. Não deve ser por acaso, inclusive, que os livros de registros de Tuczek  foram mais tardes incorporados ao National Archives da Inglaterra. 

Sapatos para se usar em casa, como se vê, fazem parte da história de uma época.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Sapatos para usar em casa (I)

sapatos para usar em casa, e somente em casa

Na postagem anterior, eles apareciam refletidos no espelho da loja em que foram encomendados. No início do ano, fora do país, e agora com temperaturas mais baixas na Serra de Petrópolis, eles têm prestado um grande serviço. Sapatos para se usar em casa, e somente em casa, são daqueles artigos que aliam elegância à satisfação de estar em casa. Mas eles já foram mais populares.


capa de Evening Post, por Norman Rockwell em 1959

Havia  aqueles, como os de Winston Churchill e Douglas Fairbanks, com iniciais gravadas sobre a ponta; ou alguns mais discretos, como os que aparecem em uma conhecida ilustração de Norman Rockwell para a capa da revista americana Evening Post, de 1959. O conforto e casualidade que os sapatos da ilustração evocam são indissociáveis da imagem do jornal de domingo espalhado pelo chão, da xícara de chá que se bebe aos poucos, ou do cigarro que se esquece no dedo enquanto o mundo ao redor segue seu curso.

Sapatos para se usar em casa, como os da foto acima, não são mais baratos do que aqueles que você encomendaria para algum casamento. Contudo, longe do suor e poeira, e protegidos da batalha urbana de todos os dias, eles podem muito bem lhe prestar o mesmo serviço por anos a fio, e talvez durar até mais do que qualquer casamento.

domingo, 26 de maio de 2013

Contraforte danificada

seis pares da última autêntica sapataria do Rio de Janeiro

O objetivo era apenas ilustrar neste blog o estrago na contraforte. Vocês devem se lembrar: a contraforte é aquela parte de trás do sapato sobre a qual se desliza o calcanhar. Sem o uso regular da calçadeira, a contraforte tende a ser pressionada, amassada, e gradualmente danificada ao calçarmos os sapatos. Mas a foto que tirei acabou revelando mais do que o infortúnio nos calçados de algum incauto cliente.

O espelho na lateral do balcão flagrou o inesperado. Eu havia acabado de experimentar um par de sapatos que encomendara para usar em casa. O couro na cor ferrugem quase se confunde com o verniz do piso de madeira que tenho na sala. O estalo que eles fazem contra o piso é prova de que também com os ouvidos se apreciam bons sapatos. A sapataria em que foram criados é a melhor, talvez a última para encomenda de autênticos sapatos sob medida no Rio de Janeiro. 

No final das contas, sem querer, a foto registrou seis gêmeos da melhor sapataria da cidade. - Só é preciso agora não esqueçer a calçadeira!

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Bacalhau, Weejuns, e Loafer

norwegians ou simplesmente weejuns

Era um almoço para celebrar um contrato com empresas escandinavas. Um dos brasileiros presentes ficou surpreso, talvez desapontado, ao saber que o bacalhau, ao contrário do que imaginava, está longe de ser o prato nacional da Noruega. Além do bacalhau porém, outro norueguês bastante difundido na cultura popular são esses sapatos informais, parecidos com mocassins. Fora da temporada de pesca, redes e traineiras costumavam dar lugar à construção de sapatos bastante informais e confortáveis. Como esses calçados feitos por pescadores noruegueses em suas horas de folga foram parar em Londres na década de trinta, isso ninguém sabe ao certo. Mas eles rapidamente caíram no gosto de americanos de férias pela Europa. Não por acaso, eles passaram então a ser conhecidos em inglês como norwegians: "noruegueses". Esse foi também o início de uma confusão, pois há dois tipos de sapatos que podem ser denominados "noruegueses", um com cadarços; o outro, sem. 

Loafers ou Penny Loafers

A versão do "norueguês" com cadarços foi o tema da postagem anterior. Trata-se de um sapato bastante popular, se bem que sua combinação com terno e gravata possa despertar a reprovação de muita gente. O norueguês sem cadarços é ainda mais informal. Inicialmente ele era conhecido como "weejuns", uma corruptela de norwegians. Em 1936 o nome Weejuns tornou-se marca registrada da firma americana Bass. Mais tarde, porém, o norueguês passou a ser cada vez mais conhecido como Loafers, ou Penny Loafers, graças ao costume, difundido entre universitários americanos, de inserir a moeda de um penny no losango decorativo da parte superior do sapato.

Resta saber agora se norueguês, apesar do nome, é tão popular em seu país de origem quanto o bacalhau.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Derby ou Norueguês?

"norueguês" da marca Allen Edmonds 
Não deixa de ser um derby, pois ele tem as duas abas laterais típicas do derby, mas o "norwegian", como é conhecido em inglês, tem uma característica bastante peculiar em seu modo de construção. A gáspea, que é a parte superior do sapato, é costurada à lateral, formando uma espécie de faixa em torno do sapato. O "norwegian" é um sapato bastante popular e informal. Mas ele não costuma se decorado com "brogues", aqueles furinhos frequentemente adicionados ao oxford e ao derby. 
 

"norueguês" feito sob medida pelo lendário Lee Kee, em Hong Kong

O "norwegian" é uma espécie de meio termo entre o mocassim e o derby convencional, daí o caráter bastante casual desse modelo. O mocassim também tem a lateral costurada à gaspea, mas não tem cadarços. Um outro sapato que é descendente direto do mocassim, e que também é fabricado sem cadarços, é o "loafer", sobre o qual falarei em breve. Algumas revista brasileiras chamam o "norwegian" de "sapato de bico quebrado". Que falta de imaginação! Trata-se, como ele é conhecido em alemão, inglês e francês de um autêntico "norueguês".

sábado, 14 de julho de 2012

Contraforte e Calçadeira

corte longitudinal do sapato

A parte do sapato que protege o calcanhar não poderia ter outro nome: "contraforte". Ela está submetida a um esforço extra, pois ajuda a impedir que o sapato se solte do pé. Além disso, a contraforte é importante para uma proteção adequada do calcanhar. Mas apesar do nome, a contraforte não é indestrutível. Pelo contrário, a falta de cuidado com os sapatos a torna especialmente vulnerável, pois muita gente na hora de se calçar acaba pressionando a contraforte para baixo com o pé. Isso pode danificá-la irreversivelmente. 

calçadeiras em chifre polido

A durabilidade da contraforte, e o conforto na hora de calçar os sapatos, dependem de uma medida bastante simples: a utilização da velha e tradicional calçadeira. A calçadeira deve estar sempre à mão na hora de se calçar. Algumas das melhores marcas de sapatos costumam adicionar uma calçadeira à caixa de sapatos, para evitar que eles se deformem prematuramente. As calçadeiras mais simples são de material barato como plástico ou aço inoxidável. Mas algumas calçadeiras são mais elaboradas, em chifre, bambu, ou mesmo prata com cabo de madrepérola, para os mais exigentes.

calçadeira de cabo longo: ideal para idosos
O uso de calçadeiras é especialmente importante na hora de calçar sapatos do tipo oxford ou wholecut, já que eles não possuem as abas laterais, típicas do sapatos do tipo derby. Uma calçadeira de cabo mais extenso permite que você calce os sapatos sem se curvar muito, o que torna a vida idosos um pouco mais fácil nessas horas.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Oxford ou Whole-Cut?

wholecut da marca Berluti

Não deixa de ser uma espécie de oxford, mas o "whole-cut" é diferente do oxford em um detalhe fundamental: como a própria palavra sugere, ele é feito sem emendas ou costuras. Daí o nome: "cortado por inteiro". Ele é menos visto nas sapatarias, em primeiro lugar, porque exige em sua confecção mais material do que outros modelos, já que ele não pode ser feito com sobras menores e retalhes do material cortado para outras partes do sapato.


Uma única superfície sem emendas
Se o sapateiro cometer algum erro na hora de cortar ou montar, o material para um par do sapato vai todo embora. Além disso, o "wholecut", quando não é feito sob medida, dificilmente se ajustará ao seu pé, caso o comprimento e a altura dos pés não coincidam perfeitamente com as dimensões da forma usada para a fabricação do sapato. No caso do derby, que é o sapato mais popular nas sapatarias, basta que o comprimento do pé se ajuste, pois as abas laterais fazem com que o sapato se acomode a qualquer altura de pé. Isso tudo, evidentemente, torna o wholecut mais caro e menos frequente nas lojas.

wholecut preto? Pense duas vezes...
O wholecut costuma ter menos furos para o cadarço do que o derby ou o oxford. Os perfurados decorativos, quando presentes, costumam também ser  mais discretos, pois o efeito visual do wholecut consiste justamente em mostrar uma única superfície que se modela perfeitamente ao pé, sem emendas ou costuras. Furinhos decorativos em excesso perturbariam o visual característico do wholecut. Esse efeito é ainda mais interessante quando o sapato é bem polido.

O wholecut é um sapato bastante informal. Embora não seja incomum vê-lo também na cor preta, o wholecut preto é, na minha opinião, bem menos atrativo do que nas variações de castanho que o couro bem tratado costuma assumir.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Richelieu ou Oxford



O Cardeal de Richelieu é mais conhecido pela sua participação na construção do absolutismo na França do século XVII. Como seu nome passou a designar um tipo de sapato masculino bastante elegante, isso sinceramente eu não sei. 

Os franceses chamam de Richelieu o mesmo tipo de sapato conhecido em outras línguas como Oxford. O Richelieu, ou Oxford, se diferencia do Derby pela ausência das abas laterais por onde se passa o cadarço.

sábado, 23 de junho de 2012

Sapatos: Brogue, Oxford, e Derby

Revista Esquire - década de 1940

Certa vez enviei para a seção de cartas da Playboy um comentário sobre sobre sapatos masculinos. A mensagem não foi respondida, mas não me incomodei com isso. Afinal, os editores devem receber todos os dias centenas de mensagens como a que enviei. Contudo, não faz muito tempo, deparei-me com o site de um dos editores da revista. Ele gentilmente se refere a mim como "especialista em sapatos". Devo enfatizar, porém, que isso realmente não é o caso. Mas o seu artigo faz uma alusão ao comentário que não chegaram a publicar. A simpática matéria de Rircardo Oliveros tem como título "Veja como usar o tradicional sapato Oxford de maneira moderna".

Sapatos, em todas as suas variações, são com certeza o item mais nobre na cultura da elegância clássica masculina. Talvez por isso seja importante desfazer aqui algumas confusões recorrentes em reportagens e propagandas sobre sapatos. Começo retomando comentário que enviei à revista Playboy

Oxford semi-brogue

“Brogue” e “oxford” são categorias bem diferentes entre si. "Brogue" designa simplesmente aquele perfurado decorativo que alguns sapatos apresentam. Em inglês britânico, dependendo da extensão dos motivos perfurados, fala-se em “brogue”, “semi-brogue”, ou “full-brogue” (esse último os americanos denominam “wing-tip brogue”). Nada impede, portanto, que um sapato seja ao mesmo tempo do tipo “brogue” e do tipo “oxford” ou "derby". 

Oxford full-brogue

Um sapato do tipo “oxford” designa o mesmo tipo de sapato que os franceses denominam “Richelieu”, e os alemães “geschlossene Schnürung”. Um “derby”, por sua vez, é o que os americanos chamam de “blucher”; os franceses denominam derby; e os alemães chamam de “offene Schnürung”. 

Quando se fala sobre estilos de sapatos, a comparação que geralmente se faz é entre “oxford” e “derby”, e não entre “oxford” e “brogue”, uma vez que tanto os "derby" quanto os "oxford" podem ser decorados com “brogue”.
 Derby (ou blucher) semi-brogue

É fácil notar a diferença entre um “oxford” e um “derby”: no “derby” a parte onde se situam os orifícios por onde se passa o cadarço está em uma aba de couro que se costura sobre o corpo do sapato. No "oxford" não há esse elemento, pois os furinhos para o cadarço são feitos diretamente sobre o corpo do sapato. O que se vê então no "oxford" é praticamente uma única superfície que acompanha todo o formato do pé. É por essa razão – por realçar o formato do pé de modo contínuo – que o “oxford” é considerado mais elegante e mais formal do que o “derby”. Vestir, por exemplo, um smoking calçando um “derby” constitui uma espécie de crime contra a elegância.

Mas os modelos do tipo "oxford", comprados em sapatarias, por oposição aos confeccionados sob medida, têm uma desvantagem: se seu pé for muito alto, na hora de amarrar, a parte do sapato sob o cadarço vai formar uma espécie de “V”; ou seja, as duas carreiras de orifícios não ficarão paralelas. Isso é um indício de que o sapato não é para o seu pé. Se, pelo contrário, seu pé for relativamente baixo, as duas carreiras de furinhos tendem a se sobrepor uma sobre a outra. Isso resulta num efeito bastante deselegante. Além disso, o sapato pode até mesmo sair do seu pé enquanto caminha, pois não adianta puxar o 
cadarço e amarrar bem apertado o sapato porque ele não ficará firme no lugar.

Para a indústria de calçados, no entanto, o “oxford” é uma dor de cabeça, uma vez os fabricantes têm de levar em consideração não apenas o cumprimento do pé, mas também a sua altura. Esse tipo de problema não ocorre com o “derby”, pois ele se adapta bem a praticamente qualquer altura que o pé possa ter. É por essa razão que nas sapatarias a quantidade de sapatos do tipo “derby” costuma ser muito superior aos do tipo “oxford”.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Brideshead Revisited



Com o reinício do verão, não pude deixar de me lembrar deste tópico: sapatos bicolores, conhecidos em inglês como spectator ou correspondent. Eles aparecem na capa deste clássico da literatura inglesa, Brideshead Revisited, de Evelyn Waugh. A história de Waugh se passa no período entre guerras. Para alguns, esse é um período de ouro da elegância clássica masculiana.



Charles Ryder & Sebastian Flyte

O livro Brideshead Revisited foi transformado em uma série de televisão de mesmo nome, levada ao ar na Grã-Bretanha durante a década de 70. A reconstiuição do vestuário da época foi feita de modo impecável, sob a consultoria de Milena Canonero. A versão cinematográfica, porém, que estreou no Brasil há poucos anos, deixa muito a desejar. Tanto no livro quanto no seriado de televisão há uma diversidade de referências ao vestuário típico da época.

- Até mesmo a capa de algumas edições do livro tenta capturar o espírito do vestuário masculino das décadas de vinte e trinta.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Sapatos bicolores do Duke of Windsor

Há pouco mais de um ano foi a leilão nos EUA um lote contendo algumas peças da idumentária que o Duke of Windsor costumava vestir nas Bahamas, onde exerceu a função de Governador Geral. O lote incluía um terno de linho e um par de sapatos do tipo bicolor - os da foto acima.

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Duque & Duquesa em Lisboa
Diferentemente dos sapatos bicolores mais tradicionais - conhecidos em inglês como correspondent ou spectator - os sapatos do Duke of Windsor que foram a leilão não eram "fechados" com laços, mais do tipo mocassim. A forma do sapato também é digna de atenção e com toda certeza deve ter sido feita pelo mesmo fabricante do sapato. Há diversas outras fotos do Duke of Windsor que testemunham a predileção que ele tinha pelos sapatos do tipo bicolor. Na foto, Duque e Duquesa em Lisboa, cidade em que moraram por algum tempo durante a Segunda Guerra.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

"Filosofia de um par de botas"

Van Gogh / 1887
Olhando casualmente para as botas, entrei a considerar as vicissitudes humanas, e a conjeturar qual teria sido a vida daquele produto social. Eis senão quando, ouço um rumor de vozes surdas; em seguida, ouvi sílabas, palavras, frases, períodos; e não havendo ninguém, imaginei que era eu, que eu era ventríloquo; e já podem ver se fiquei consternado. Mas não, não era eu; eram as botas que falavam entre si, suspiravam e riam, mostrando em vez de dentes, umas pontas de tachas enferrujadas. Prestei o ouvido; eis o que diziam as botas:


Van Gogh / 1885

BOTA ESQUERDA.- Ora, pois, mana, respiremos e filosofemos um pouco.

BOTA DIREITA.- Um pouco? Todo o resto da nossa vida, que não há de ser muito grande; mas enfim, algum descanso nos trouxe a velhice. Que destino! Uma praia! Lembras-te do tempo em que brilhávamos na vidraça da Rua do Ouvidor?

BOTA ESQUERDA.- Se me lembro! Quero até crer que éramos as mais bonitas de todas. Ao menos na elegância...

BOTA DIREITA.- Na elegância, ninguém nos vencia.

BOTA ESQUERDA.- Pois olha que havia muitas outras, e presumidas, sem contar aquelas botinas cor de chocolate... aquele par...

BOTA DIREITA.- O dos botões de madrepérola?

BOTA ESQUERDA.- Esse.

BOTA DIREITA.- O daquela viúva?

BOTA ESQUERDA.- O da viúva.

BOTA DIREITA.- Que tempo! Éramos novas, bonitas, asseadas; de quando em quando, uma passadela de pano de linho, que era uma consolação. No mais, plena ociosidade. Bom tempo, mana, bom tempo! Mas, bem dizem os homens: não há bem que dure, nem mal que se não acabe.
(...)


(Machado de Assis: "Filosofia de um par de botas", publicado originalmente em O Cruzeiro, 23 de abril de 1878).

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

"Um botim sem misericórdia nem graxa"

Van Gogh / telas de década de 80 do século 19

Van Gogh pintou várias quadros retratando sapatos “sem misericórdia nem graxa”. Essa expressão aparece em uma das mais conhecidas obras de Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, publicada em 1881. Não é signficativo, aliás, que as telas de Van Gogh tenham aparecido na mesma época em que Machado de Assis escrevia seu romance? A elegância por vezes se encontra onde menos a procuramos, e pode mesmo consistir na descrição do que mais dela se afasta. Essa passagem de Memórias Póstumas ilustra o que digo:

“Imaginem um homem de trinta e oito a quarenta anos, alto, magro e pálido. As roupas, salvo o feitio, pareciam ter escapado ao cativeiro de Babilônia; o chapéu era contemporâneo do de Gessler. Imaginem agora uma sobrecasaca, mais larga do que pediam as carnes, — ou, literalmente, os ossos da pessoa; a cor preta ia cedendo o passo a um amarelo sem brilho; o pêlo desaparecia aos poucos; dos oito primitivos botões restavam três. As calças, de brim pardo, tinham duas fortes joelheiras, enquanto as bainhas eram roídas pelo tacão de um botim sem misericórdia nem graxa. Ao pescoço flutuavam as pontas de uma gravata de duas cores, ambas desmaiadas, apertando um colarinho de oito dias. Creio que trazia também colete, um colete de seda escura, roto a espaços, e desabotoado.”

quinta-feira, 25 de março de 2010

Formas para conservação dos sapatos

Sapato com forma
Recentemente, na postagem sobre galochas, referi-me à cultura do desperdício que vai tornando quase tudo descartável, inclusive sapatos masculinos. Um autêntico sapato de couro custa, de fato, mais do que um similar de couro sintético. Mas se fizermos as contas na ponta do lápis, o sapato de couro acaba saindo mais em conta, pois costuma ter uma vida útil bem mais longa. Mas para que os sapatos possam realmente proporcionar longos anos de satisfação e elegância, é preciso tomar alguns cuidados.


Um ponto importante é não usar o mesmo par de sapatos todos os dias. A umidade que se acumula no interior dos sapatos precisa de algum tempo para ser completamente devolvida para o ambiente. O acúmulo da umidade no interior dos sapatos contribui para a gradual deterioração do couro. Por isso, é importante introduzir um esquema de rodízio entre os sapatos. Sapatos de qualidade exigem também a utilização de “formas”. Elas devem ser inseridas nos sapatos assim que eles são retirados dos pés. A forma impede que o couro vá se deformando lentamente enquanto o sapato não está em uso. Evidentemente, é preciso escolher o modelo de forma que melhor se adapta ao formato dos sapatos. O ideal é ter os sapatos à mão - ou nos pés - na hora de comprar a forma, para ter certeza de que ela tem o formato e o tamanho adequados. Algumas marcas costumam oferecer, para cada modelo e tamanho de sapato, a forma correspondente.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Um chato de galochas (II)


galochas da marca Tingley

Não há nada de errado em ser um chato de galochas, contanto, é claro, que você possa manter secos seus sapatos mesmo sob um forte temporal. As galochas antigas costumavam ser mais volumosas, e já vão algumas décadas elas caíram em esquecimento. Mas não devem ter sido apenas razões estéticas que contribuíram para o gradual declínio das galochas. A cultura do desperdício tornou os sapatos itens praticamente descartáveis. Por isso, poucos homens ainda têm o hábito de manter seus sapatos em bom estado por anos a fio, como se fazia antigamente, até que eles adquiram a pátina característica do couro envelhecido.



John Lobb: galochas para modelos específicos

Contudo, a utilização de materiais mais finos e flexíveis na confecção de galochas, aliada a uma gradual reação à cultura do desperdício, vêm contribuindo para o retorno desse velho item do guarda-roupa clássico masculino. Algumas marcas, inclusive, como a renomada inglesa John Lobb, possuem galochas específicas para alguns de seus modelos de sapatos mais nobres.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Um chato de galochas (I)

Van Gogh / agosto de 1888

Após alguns dias de intenso calor, as águas de março, fechando agora o verão, têm causado danos por toda parte. Inclusive em alguns sapatos. Para sapatos com solado de couro a água em excesso pode ser realmente um problema. Sob hipótese alguma use um secador de cabelos, nem coloque os sapatos em locais quentes como radiadores de geladeira, ou aquecedores para secarem mais rapidamente. Esse procedimento com certeza tornará o couro quebradiço e enrugado, danificando os sapatos de modo irreversível. O ideal é retirar os cadarços e encher o sapato de jornal ou, melhor ainda, papel absorvente. O importante é que os sapatos sequem naturalmente em local arejado. Virar o sapato de lado, com a sola do sapato numa posição perpendicular ao chão, promove a circulação de ar e a remoção da umidade. Se for necessário, retire o papel e repita o procedimento até os sapatos ficarem completamente secos.


Anúncio antigo de galochas

Uma maneira de prevenir, ou pelo menos de amenizar o problema dos sapatos molhados consiste em recorrer às velhas e já esquecidas... galochas. De onde vem a expressão “um chato de galocha” não se sabe ao certo, mas ela deve ter contribuído para que as pessoas gradualmente deixassem de levar a sério esse item de qualquer guarda-roupa civilizado. As galochas antigas costumavam ser, de fato, um pouco grandes e pesadas. Mas hoje em dia é possível encontrar algumas bem mais elegantes. Retornarei ao tema na próxima postagem...

sábado, 19 de setembro de 2009

Roupas e sapatos não envelhecem, enobrecem...

Príncipe Charles: mesmos sapatos por décadas a fio

Engana-se quem pensa que vestir-se bem consiste em renovar a cada estação todo um guarda-roupa. Muitos homens acabam se desfazendo rapidamente de sapatos, camisas, ou ternos simplesmente porque essas peças foram compradas ao sabor da moda, deixando de ter a atratividade que tinham quando foram adquiridas. Ou simplesmente porque elas não duram muito tempo, dada a má qualidade do material de que são construídas, ou a precariedade da mão de obra ou processo industrial que as produziram. No entanto, assim como um bom vinho, uma escultura em bronze, ou uma tela a óleo, é apenas com o passar dos anos que roupas e sapatos realmente de qualidade adquirem o caráter próprio que lhes confere individualidade e dignidade.


Sapatos com mais de quatro décadas

Príncipe Charles, por exemplo, é conhecido não apenas pela elegância e sobriedade com que se veste, mas também por usar, por décadas a fio, os mesmos ternos, chapéus, sobretudos, e sapatos evidentemente, todos feitos sob medida. A cultura da elegância clássica masculina não se confunde com a cultura de consumo. Muito pelo contrário, é dela inteiramente adversa.