segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Roupas e sapatos não envelhecem, enobrecem... (II)

Príncipe Michael of Kent

Referi-me em minha postagem anterior a esse aspecto da cultura da elegância clássica masculina: nada pode ter a aparência de novo, como se tivesse acabado de sair de uma embalagem. Havia uma época, inclusive, em que cabia ao mordomo ou outro empregado a tarefa de usar por alguns meses os sapatos ou ternos novos de seu empregador, até que essas peças perdessem a rigidez e inflexibilidade com que saíam do artesão que as produziu. De Cary Grant, diz-se, por exemplo, que ele deixava por uns dias estendida ao sol a fazenda de que se fariam seus ternos, até que adquirissem uma cor menos industrial.


Detalhe da foto acima: poído, sim...

Não deve ser por outra razão que o Príncipe Michael of Kent não apenas não experimenta qualquer constrangimento em circular publicamente com um jaquetão - em tudo mais impecável - já com a parte frontal se desfazendo em elegantes esfarrapos, pelo contrário disso ele deve com certeza se orgulhar.

sábado, 19 de setembro de 2009

Roupas e sapatos não envelhecem, enobrecem...

Príncipe Charles: mesmos sapatos por décadas a fio

Engana-se quem pensa que vestir-se bem consiste em renovar a cada estação todo um guarda-roupa. Muitos homens acabam se desfazendo rapidamente de sapatos, camisas, ou ternos simplesmente porque essas peças foram compradas ao sabor da moda, deixando de ter a atratividade que tinham quando foram adquiridas. Ou simplesmente porque elas não duram muito tempo, dada a má qualidade do material de que são construídas, ou a precariedade da mão de obra ou processo industrial que as produziram. No entanto, assim como um bom vinho, uma escultura em bronze, ou uma tela a óleo, é apenas com o passar dos anos que roupas e sapatos realmente de qualidade adquirem o caráter próprio que lhes confere individualidade e dignidade.


Sapatos com mais de quatro décadas

Príncipe Charles, por exemplo, é conhecido não apenas pela elegância e sobriedade com que se veste, mas também por usar, por décadas a fio, os mesmos ternos, chapéus, sobretudos, e sapatos evidentemente, todos feitos sob medida. A cultura da elegância clássica masculina não se confunde com a cultura de consumo. Muito pelo contrário, é dela inteiramente adversa.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A lapela parisiense

casa Marc Guyot

Referi-me já faz algum tempo à diferença entre a lapela ascendente e a lapela descendente. Mas há um tipo de lapela, pouco comum na verdade, que segue uma espécie de via intermediária. Há alguma discussão sobre sua verdadeira origem e, portanto, sobre como ela deveria se chamar. Alguns afirmam que se trata de uma criação da casa britânica E. Tautz, posteriormente incorporada à Norton & Sons - por essa razão, esse tipo de lapela deveria se chamar “Tauz lapela”. Há quem afirme, por outro lado, que esse tipo de lapela é um produto da casa austríaca Knize, devendo portanto ser denominada “Knize lapel”. Mas talvez a designação mais comum seja simplesmente “lapela parisiense” ou “le cran parisien”, popularizada pela casa Camps De Luca, e ainda hoje em voga na casa Marc Guyot.


Gay Talese em Paraty / julho de 2009

Qualquer que seja sua origem, ou designação mais adequada, a “lapela parisiense” tem como um de seus mais conhecidos adeptos o escritor americano Gay Talese, que esteve recentemente no Brasil. Talese, aliás, é filho de alfaiate. Ele conta em sua biografia e em algumas entrevistas que lamenta ver o gradual desaparecimento da arte da alfaiataria masculina.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Alfaiates, uni-vos!

Alfaiataria Raunier, São Paulo / 1914

Quantas casas no Brasil ainda ostentam letreiros como o da foto acima? Trata-se da antiga fachada da Alfaiataria Raunier, na Rua 15 de Novembro, n. 39, em foto publicada pela primeira vez em 1914, e reproduzida mais recentemente no livro A cidade-Exposição.

O ofício do alfaiate vai se extinguindo – e nenhuma organização internacional para preservação da individualidade e bom gosto parece erguer a bandeira dessa causa. Os profissionais que ainda não viram seus estabelecimentos transformados em loja de computador, atacadão de produtos de limpeza, ou qualquer outro ofício menos nobre, vivem da fidelidade de clientes de longa data. Pesquisar no google sobre o tema nos conduz quando muito a listas telefônicas.

Exorto possíveis leitores desta mensagem a divulgarem aqui endereços e contatos de alfaiates espalhados pelo Brasil e com os quais tenham tido a
sublime experiência de ver se formar gradualmente um terno ou paletó inteiramente feito sob medida.