sábado, 23 de junho de 2012

Sapatos: Brogue, Oxford, e Derby

Revista Esquire - década de 1940

Certa vez enviei para a seção de cartas da Playboy um comentário sobre sobre sapatos masculinos. A mensagem não foi respondida, mas não me incomodei com isso. Afinal, os editores devem receber todos os dias centenas de mensagens como a que enviei. Contudo, não faz muito tempo, deparei-me com o site de um dos editores da revista. Ele gentilmente se refere a mim como "especialista em sapatos". Devo enfatizar, porém, que isso realmente não é o caso. Mas o seu artigo faz uma alusão ao comentário que não chegaram a publicar. A simpática matéria de Rircardo Oliveros tem como título "Veja como usar o tradicional sapato Oxford de maneira moderna".

Sapatos, em todas as suas variações, são com certeza o item mais nobre na cultura da elegância clássica masculina. Talvez por isso seja importante desfazer aqui algumas confusões recorrentes em reportagens e propagandas sobre sapatos. Começo retomando comentário que enviei à revista Playboy

Oxford semi-brogue

“Brogue” e “oxford” são categorias bem diferentes entre si. "Brogue" designa simplesmente aquele perfurado decorativo que alguns sapatos apresentam. Em inglês britânico, dependendo da extensão dos motivos perfurados, fala-se em “brogue”, “semi-brogue”, ou “full-brogue” (esse último os americanos denominam “wing-tip brogue”). Nada impede, portanto, que um sapato seja ao mesmo tempo do tipo “brogue” e do tipo “oxford” ou "derby". 

Oxford full-brogue

Um sapato do tipo “oxford” designa o mesmo tipo de sapato que os franceses denominam “Richelieu”, e os alemães “geschlossene Schnürung”. Um “derby”, por sua vez, é o que os americanos chamam de “blucher”; os franceses denominam derby; e os alemães chamam de “offene Schnürung”. 

Quando se fala sobre estilos de sapatos, a comparação que geralmente se faz é entre “oxford” e “derby”, e não entre “oxford” e “brogue”, uma vez que tanto os "derby" quanto os "oxford" podem ser decorados com “brogue”.
 Derby (ou blucher) semi-brogue

É fácil notar a diferença entre um “oxford” e um “derby”: no “derby” a parte onde se situam os orifícios por onde se passa o cadarço está em uma aba de couro que se costura sobre o corpo do sapato. No "oxford" não há esse elemento, pois os furinhos para o cadarço são feitos diretamente sobre o corpo do sapato. O que se vê então no "oxford" é praticamente uma única superfície que acompanha todo o formato do pé. É por essa razão – por realçar o formato do pé de modo contínuo – que o “oxford” é considerado mais elegante e mais formal do que o “derby”. Vestir, por exemplo, um smoking calçando um “derby” constitui uma espécie de crime contra a elegância.

Mas os modelos do tipo "oxford", comprados em sapatarias, por oposição aos confeccionados sob medida, têm uma desvantagem: se seu pé for muito alto, na hora de amarrar, a parte do sapato sob o cadarço vai formar uma espécie de “V”; ou seja, as duas carreiras de orifícios não ficarão paralelas. Isso é um indício de que o sapato não é para o seu pé. Se, pelo contrário, seu pé for relativamente baixo, as duas carreiras de furinhos tendem a se sobrepor uma sobre a outra. Isso resulta num efeito bastante deselegante. Além disso, o sapato pode até mesmo sair do seu pé enquanto caminha, pois não adianta puxar o 
cadarço e amarrar bem apertado o sapato porque ele não ficará firme no lugar.

Para a indústria de calçados, no entanto, o “oxford” é uma dor de cabeça, uma vez os fabricantes têm de levar em consideração não apenas o cumprimento do pé, mas também a sua altura. Esse tipo de problema não ocorre com o “derby”, pois ele se adapta bem a praticamente qualquer altura que o pé possa ter. É por essa razão que nas sapatarias a quantidade de sapatos do tipo “derby” costuma ser muito superior aos do tipo “oxford”.

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