sexta-feira, 15 de julho de 2011

Frédéric Chopin: Elegância

Estátua de Frédéric Chopin / Praia Vermelha, Rio de Janeiro


No livro Chopin's World, uma biografia de Frédéric Chopin, Ann Malaspina relata a obsessão que o compositor polonês tinha com a elegância das roupas que vestia:

"Música era a sua vida, no entanto, Chopin também apreciava o luxo. Ele comprava móveis caros e os cobria nos mais sofisticados tecidos de seda. Quando costumava sair à noite, ele vestia ternos elegantes feitos pelo seu alfaiate. Chopin ostentava uma figura esplêndida, em um paletó de veludo, colete preto, luvas brancas, cartola manufaturada por um chapeleiro de Paris, e capa preta de veludo com forro de seda prateada. Seus pequenos sapatos eram feitos à mão. Vestir-se como um gentleman era importante para Chopin..."

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Falando com os botões

Fonte: Encyclopedia of Clothing and Fashion, vol 1, p. 222

De Machado de Assis, Quincas Borba, início do capítulo CXLII:

“A expressão: ‘Conversar com os seus botões’, parecendo simples metáfora, é frase de sentido real e direto. Os botões operam sincronicamente conosco; formam uma espécie de senado, cômodo e barato, que vota sempre as nossas moções.”

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Terno de Linho (IV)

Vargas e Roosevelt em quadro de R. Neilson / Museu da República, Rio de Janeiro


Seria talvez possível reescrever a história do pensamento político a partir das roupas e uniformes dos homens que governaram Estados, fizeram guerras, amargaram de modo trágico derrotas pessoais, ou festejaram entusiasmadamente a glória da vitória. A linguagem das roupas sempre se mostrou uma poderosa aliada tanto de ditadores quanto de democratas, seja para exprimir o peso da autoridade, ou para sugerir a informalidade de quem pretende ser visto como um autêntico homem do povo.

Isso não foi diferente durante a Segunda Guerra Mundial, quando o nordeste brasileiro serviu de quintal para tropas americanas. Uma tela de Raymond Neilson retrata os presidentes Getúlio Vargas e Franklin Roosevelt inspecionando uma base aérea americana, instalada em Natal. À exceção do motorista, cabisbaixo em primeiro plano, os demais, tanto civis quanto militares, se vestem de branco, como se fossem verdadeiros missionários paz. Vargas e Roosevelt, além disso, parecem inteiramente adaptados, em seus ternos de linho e chapéus tipo Panamá, ao calor da região.

- Qualquer que tenha sido o legado político de Vargas e Roosevelt, há pelo menos que se reconhecer a elegância despretensiosa desses dois líderes políticos.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Paletó parcialmente forrado



 Já mencionei em outras postagens que o paletó de linho sem forro é uma alternativa inteligente nos dias mais quentes do ano. Mas não é só o paletó de linho que pode ser confeccionado sem forro; praticamente qualquer um pode. A ausência de mais uma camada de tecido torna o paletó, literalmente, mais leve. Porém, mas importante do que o peso do paletó é a sua capacidade de promover a circulação de ar, e é por isso que a ausência do forro o torna mais confortável nos dias mais quentes do ano. Tecidos mais leves não são necessáriamente mais confortáveis no verão!

Contudo, é importante ter também em mente que o forro não precisa ser visto como uma espécie de tudo ou nada em seu paletó, pois é possível ter o paletó confeccionado com apenas uma parte do forro. O paletó, assim, pode ter um oitavo, um quarto, ou até mesmo a metade do forro convencional, como se vê na ilustração acima.
- A escolha dependerá da sua imaginação, e da habilidade de seu alfaiate.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Terno de Linho (III)

De férias ou a trabalho nas Bahamas

O Duque de Windsor costumava usar esse terno de linho quando foi Governador das Bahamas, na década de quarenta. Trata-se, como se pode ver, de um modelo tipo "jaquetão", com duas carreiras de dois botões. Jaquetões, em ternos de lã, costumam ter três botões em cada carreira de botão, mas em versões mais informais é frequente a utilização de dois botões apenas.

O exemplar da foto acima foi recentemente leiloado nos EUA. Contudo, leitores atentos devem ter reparado uma espécie de anomalia: o paletó segue um padrão de abotoamento feminino, pois a parte direita se sobrepõe à esquerda. A foto certamente não está invertida, pois o bolso superior está onde deveria estar, ou seja: do lado esquerdo de quem veste a roupa. O que deve ter ocorrido aqui é que o paletó foi colocado em uma armação, e abotoado para ser fotografado em seguida. A pessoa que o abotou, certamente destra, deve ter inconscientemente usado a mão direita para segurar o botão, e a esquerda para segurar o lado do caseado, por onde passa o botão. É essa inclusive uma das razões para que o padrão de abotoamento feminino seja diferente do masculino, pois em priscas eras cabia à dama de companhia, geralmente destra, abotoar as roupas de sua patroa.


- Em outras postagens, escrevi mais sobre a história do abotoamento de paletós masculinos.

domingo, 10 de julho de 2011

Terno de Linho (II)

O paletó de de linho é frequentemente feito sem forro, o que o torna ainda mais propício para ser utilizado durante o verão; mas, por outro lado, sem o forro ele fica também mais vulnerável às rugas. O terno de linho, a despeito de sua informalidade, e diferentemente do terno da foto acima, também pode ter a forma de um "jaquetão", com duas carreiras de botões. Repare ainda que os bolsos do paletó de linho são quase sempre sobrepostos, ainda que isso não seja uma regra muito rígida. Isso significa que os bolsos não são internos e não têm uma aba de tecido para fechá-los.

domingo, 3 de julho de 2011

Oswald de Andrade: Terno de Linho

Oswald Andrade
A visão de um terno de linho, nas últimas décadas, foi se tornando cada vez mais rara. Isso é realmente uma pena, pois o linho é bem mais adequado ao nosso clima do que as abomináveis fibras sintéticas que povoam boa parte dos ternos que circulam em nosso país. Até mais ou menos a década de cinquenta, do homem comum ao presidente, do general de folga ao intelectual, como Oswald de Andrade na foto acima, todos tinham pelo menos um terno de linho no armário.


idem por (c) Leonardo / Jornal Estado de São Paulo

Acresce ainda que o linho, diferentemente do algodão ou da lã, tem uma ascendência tão longa quanto nobre, pois o linho era o tecido dos sacerdotes egípcios, e compunha também parte da indumentária dos imperadores romanos. O linho, de fato, amassa rapidamente, mas é preciso apreciar suas rugas, não como marcas da negligência, mas como resultado da elegância despreocupada de quem tem sobre os ombros mais de dois mil anos de tradição.