terça-feira, 28 de abril de 2009

Savile Row (I)


A elegância masculina não se constrói sobre o terreno efêmero e arenoso de grifes, marcas, e designers. Ela se edifica sobre o trabalho experiente, quase anônimo, de uma legião de tradicionais alfaiates e artesãos.

E falar em alfaiataria masculina significa falar de Savile Row. Essa pequena rua do centro de Londres reúne as melhores e mais antigas casas de alfaiataria do mundo, incluindo, por exemplo: Anderson & Sheppard, Davies & Sons, Dege & Skinner, Gieves & Hawkes, Henry Poole & Co, H.Huntsman & Sons, Meyer and Mortimer, Norton & Sons, Ozwald Boateng, Richard Anderson, e Richard James.

Dizer que Savile Row é sinônimo de alfaiataria masculina não é nenhum exagero... A palavra japonesa para “terno” é "sebiro" (背広), uma corruptela de “savile”.

domingo, 26 de abril de 2009

Bolsos do paletó (VI)


A inclinação do boso lateral é um outro elemento que confere informalidade ao paletó. Sua função original era permitir que o cavaleiro pudesse introduzir a mão no bolso sem dificuldade enquanto estivesse cavalgando

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Bolsos do paletó (V)

O tipo de bolso mais formal em um paletó é o que se projeta para dentro, mas sem a aba que o recobre externamente. Diferentemente do bolso sobreposto à lateral do paletó, e do bolso com aba, esse tipo de bolso não perturba, através da adição de novos elementos, a sobriedade do ensemble . Dessa forma, é possível concentrar nossa atenção sobre outros aspectos do paletó.

duas nações separadas pelos bolsos

Tente acrescentar mentalmente as abas que recobrem os bolsos laterais do paletó de nosso presidente ao já quase imperceptível bolso lateral do jaquetão do Príncipe de Gales. O jaquetão possui uma diversidade de elementos dispostos verticais e horizontalmente, como os botões em maior número, além da lapela mais larga e aparente. As abas sobre os bolsos laterais, elegantes e discretas no terno da direita, apenas comprometeriam a elegância do terno da esquerda... e olha que não estou me referindo a posições no espectro de ideologias.


Há, no entanto, uma desvantagem com o tipo de bolso aqui em questão: eles tendem a abrir com o tempo, formando uma espécie de fenda permanente e bem pouco elegante sobre as laterais do paletó, como ilustra a segunda foto do Príncipe de Gales. Por essa razão, em alguns paletós comprados prontos, a abertura do bolso vem costurada, tornando o bolso meramente decorativo.

Mas se você está interessado na funcionalidade dos bolsos laterais, sem abrir mão da elegância, a solução talvez consista em começar a usar em trabalhos de jardinagem aquele paletó que até então você reservava a outros âmbitos de sua vida.

Bolsos do paletó (IV)

bolso com aba externa

O tipo de bolso lateral mais convencional é aquele que se projeta para dentro do paletó, sendo recoberto externamente por uma aba. A aba tem uma função óbvia, que é impedir que qualquer objeto depositado no interior do bolso caia para fora.

Gianfranco Ferré / 1944-2007

Uma função menos óbvia é o papel que a aba desempenha na estética do paletó. Como se trata de um elemento a mais sobre o paletó, ela atrai nosso olhar para a região do quadril, desviando
inconscientemente nossa atenção de outros elementos do paletó. Para homens com massa abdominal em excesso, isso pode representar uma desvantagem, pois a presença das abas torna ainda mais aparente o que o paletó deveria elegantemente disfarçar. Talvez por isso alguns homens prefiram abrir mão inteiramente não apenas das abas, mas até mesmo dos bolsos laterais em seus paletós.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Bolsos do paletó (III)


Há um tipo de paletó bastante informal que possui quatro bolsos sobrepostos simétricos, sendo dois superiores e dois inferiores, separados por um cinto que faz parte da própria vestimenta. É desnecessário enfatizar que um paletó como esse deve ser reservado a circunstâncias como viagens ou passeios em que, sem perder a elegância, você pode espalhar pelos diversos bolsos objetos que prefere não ter de levar na mão. Esse paletó é a versão mais urbana de dois tipos de trajes literalmente esportivos: a jaqueta Norfolk e a jaqueta safári.

jaqueta Norfolk

jaqueta Norfolk - frente e costas
A jaqueta Norfolk não costuma ter bolsos superiores, mas os bolsos inferiores são amplos, o que originalmente permitia - e ainda permite - o transporte de cartuchos para armas de caça. A jaqueta Norfolk foi concebida para permitir práticas esportivas em condições climáticas desfavoráveis, sobretudo quando se está sujeito ao frio e à chuva. É nesse ponto que ela se distingue de uma jaqueta bastante parecida, porém mais adequada para o clima úmido e quente da savana: a jaqueta safári.


jaqueta safári

jaqueta safári / Esquire 1943
A jaqueta safári compartilha com a jaqueta Norfolk sua função original, que era a de permitir carregar nos bolsos uma série de apetrechos como cartuchos, bússola, mapas, bloco de notas, etc. que devem estar à mão sem, porém, ter de estar na mão. No entanto, ela é bem mais leve do que a Norfolk, sendo normalmente confeccionada em tecido de algodão.

Tom Cruise no Filme Operação Valquíria
Não é difícil de perceber a conotação militar que a jaqueta safári evoca...

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Bolsos do paletó (II)

insuperável Duke of Windsor

O tipo de bolso lateral mais informal em um paletó é aquele diretamente sobreposto sobre o tecido, como ocorre com o bolso de uma camisa social. Se o tecido tiver algum tipo de padronagem, como xadrez ou listras, é imprescindível que a padronagem dos bolsos acompanhe exatamente as linhas da padronagem do restante do paletó. Uma razão para considerar informal o bolso sobreposto é que qualquer objeto que for colocado em seu interior tenderá a estufá-lo como um saco, perturbando, portanto, o efeito de simetria, e interferindo nas proporções do ensemble. Caso haja realmente a intenção de utilizar os bolsos laterais do paletó para transportar objetos relativamente volumosos, o ideal é optar por bolsos que sejam providos de pregas que permitam a expansão do bolso sem chamar muito a atenção, como se pode ver nas três próximas ilustrações abaixo.




Bolsos sobrepostos não são jamais aplicados em um smoking. Bolsos sobrepostos também não são muito recomendáveis para jaquetões, ao menos, é claro, que o jaquetão em questão tenha um corte mais esportivo e casual, como os das duas ilustrações abaixo.


Repare em algumas das ilustrações acima que o bolso superior, onde geralmente se coloca um lenço, pode ter um tipo de construção diferente do tipo de construção dos bolsos laterais inferiores.

domingo, 19 de abril de 2009

Bolsos do paletó (I)

do mais informal ao mais formal

Um paletó geralmente possui três bolsos externos: um superior do lado esquerdo para o lenço, e dois laterais inferiores, posicionados um pouco abaixo da cintura. Alguns paletós apresentam ainda um quarto bolso, colocado acima do bolso lateral direito. Esse quarto bolso nunca é posicionado do lado esquerdo.

O
tipo de bolso mais informal é aquele construído a partir da sobreposição de um pedaço de tecido diretamente sobre o corpo do paletó. Esse bolso pode ou não ter uma aba sobre sua abertura (fig. A). Em um grau intermediário de informalidade há o bolso mais convencional, que se projeta para dentro do paletó e é coberto por uma aba sobre sua abertura (fig. B). O bolso mais formal é aquele que se projeta para dentro do paletó, mas sem a aba; o que se vê dele é apenas a sua abertura, com o acabamento ao redor (fig. C). Um smoking deve necessariamente, e o um jaquetão deve preferencialmente ter esse último tipo de bolso.

sábado, 18 de abril de 2009

Paletó com barra nas mangas


Calças com barras, formando uma espécie de bainha voltada para fora, não são nenhuma novidade. Menos conhecidos talvez sejam paletós com barras nas mangas, como na foto acima. A presença das
barras nas mangas não impede, evidentemente, que os botões da manga sejam funcionais. No início do século vinte barras nas mangas do paletó foram vistas com mais freqüência, mas elas são usadas ainda hoje, evocando de modo discreto a cultura hípica em que surgiram. O ator britânico John Gielgud é visto em muitas fotos usando paletós com barra nas mangas. O mesmo se pode dizer do pintor Richard Merkin, bem como do criador de James Bond, o escritor Ian Fleming.

John Gielgud

Richard Merkin

Ian Fleming

Existem diversos tipos barras nas magas: retas, curvas, semi-abertas, etc. Converse previamente com seu alfaite sobre qual modelo de barras melhor se adequa ao corte do paletó que você pretende encomendar. A ilustração abaixo dá uma idéia dessa diversidade de formas que as barras podem ter.



Não deve ser uma regra muito estrita, mas conheço um adepto das barras nas mangas do
paletó que é veemente no princípio segundo o qual as barras somente devem ser usadas com calças que também tenham barras, de modo a garantir uma coordenação harmoniosa de formas.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Oscar Wilde: dever cumprido...

Oscar Wilde / 1875

“O primeiro dever de um homem é para com seu alfaiate, qual é o seu segundo, isso ninguém jamais descobriu.”

Oscar Wilde, escritor inglês

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Manga do paletó com botões funcionais


Uma característica bastante distintiva de um autêntico paletó sob medida é que pelo menos dois dos botões da manga são funcionais. Isso significa dizer que é possível desabotoá-los e, literalmente, arregaçar a manga do paletó. Em um paletó comprado pronto os botões são meramente decorativos, pois se os botões fossem realmente funcionais não seria possível mais tarde fazer quaisquer alterações no comprimento da manga. Por essa razão, na confecção de um paletó sob medida, geralmente é apenas após a última prova, e depois de feitos todos os ajustes, que se determina o comprimento da manga. Em seguida, faz-se o caseamento e se acrescentam os botões.


Filme Orient Express (1974) , de Sidney Lumet

Botões funcionais na manga do paletó são úteis naquelas situações em que você tem realmente de arregaçar a manga para, por exemplo, lavar a mão ou – em ocasiões menos freqüentes – quando você tem de realizar uma autópsia no corpo de um passageiro misteriosamente assassinado a bordo de um trem como o Orient Express. Em quaisquer outras situações, deixar o botão da manga do paletó deliberadamente aberto, apenas para mostrar que seu terno ou paletó foi feito sob medida, é prova de grande deselegância e futilidade.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Lapela e sua "bouttoniere"

A lapela do lado esquerdo possui uma casa para botão, comumente denominada bouttoniere. Originalmente essa casa era funcional, isto é havia realmente um botão correspondente na lapela do lado direito que se podia abotoar, fechando assim o paletó inteiramente. Na verdade, nesse caso, talvez não devêssemos falar ainda de um paletó, mas de uma túnica. Uma versão da história é que os soldados ingleses costumavam desabotoar os botões superiores de suas túnicas, permitindo que a parte desabotoada se inclinasse lateralmente, formando assim uma lapela voltada para o lado direito, e outra para o lado esquerdo. A túnica parcialmente aberta certamente conferia aos soldados um ar degagé, de conforto e casualidade.

Alfaiates começaram então a confeccionar túnicas – ou talvez paletós – para civis com as laterais já dobradas, uma para cada lado, mas retendo do lado esquerdo o caseado original.
Repare na versão ampliada da foto acima que o caseado é ligeiramente irregular. O caseado de um autêntico paletó sob medida deve ser inteiramente feito à mão. Um caseado perfeito é uma verdadeira arte. Há, inclusive, uma citação famosa de Oscar Wilde que diz o seguinte: "A really well-made buttonhole is the only link between art and nature" (Um caseado bem feito é o único elo entre a arte a natureza).

A bouttoniere perdeu sua função original, mas ganhou uma nova, ainda mais elegante: a de poder abrigar uma pequena flor, como por exemplo o cravo vermelho na ilustração acima. Mas para que a bouttoniere possa desempenhar sua nova função adequadamente é necessário que abaixo dela, por trás da lapela, haja um pequeno laço onde se possa encaixar o caule da flor, pois do contrário ela irá rapidamente tombar para o lado, ou mesmo despencar da bouttoniere.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Lapela: descendente, ascendente, e horizontal


A união da lapela com a gola forma uma linha que pode ser ascendente, horizontal, ou descendente. Em um jaquetão (double breasted) a lapela deve ser necessariamente e incondicionalmente ascendente ou horizontal (fig. 2a e 2b). Um jaquetão com lapela descendente pode ser considerado uma verdadeira aberração, e deve ser evitado a qualquer custo. O paletó de um “smoking” cuja lapela não for arredondada (shawl collar) também tem, necessariamente, lapela ascendente ou horizontal. No caso de um paletó convencional, com uma única carreira vertical de botões (single breasted), a lapela normalmente é descendente (fig. 1a e 1b). Mas é possível encontrarmos paletós desse tipo com lapela ascendente, como na figura abaixo.

lapela ascendente em paletó single breasted

Paletós com uma única carreira vertical de botões e lapela ascendente entraram e saíram de moda diversas vezes. Há pessoas, porém, como o falecido Hardy Amies, que consideram essa combinação não menos aberrante do que a de um jaquetão com lapela descendente.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Lapela

A lapela do paletó – também chamada rebuço – faz parte do corte principal de tecido a partir do qual se monta o paletó. À lapela se acrescenta mais tarde a gola, que é cortada separadamente. Não é por acaso que tanto em inglês quanto em alemão a lapela se denomina também “Revers”, pois ela se forma dobrando uma parte do tecido, que passa a mostrar então seu lado “reverso”. As duas ilustrações acima mostram como a lapela surge na construção de um paletó.

A forma da lapela é um importante elemento na estética do paletó. Seu cumprimento pode variar conforme o número de botões; sua largura, conforme o tamanho dos ombros; e sua inclinação, conforme o tipo de paletó.


Na década de 60 esteve bastante em voga um paletó chamado "Nehru", que não tinha lapela, mas que podia ou não ter a gola. A lapela é tão importante para a impressão geral que temos da estética de um paletó que, a meu ver, é mesmo difícil olharmos para um "Nehru" sem termos a impressão de que algo de essencial e distintivo lhe falta – a lapela.

domingo, 12 de abril de 2009

Le Corbusier: elegância e proporções

Le Corbusier / 1938

Le Corbusier, assim como Adolf Loos, foi outro importante nome da arquitetura moderna. E assim como Loos, ele também estendeu suas reflexões sobre proporções e formas na arquitetura à cultura da elegância clássica masculina. Le Corbusier criou um sistema de proporções conhecido como “modulor”. Sua idéia era que, assim como alfaiates que são encarregados da produção de roupas personalizadas e “ready-to-wear” têm de levar em consideração que a roupa que fazem deverá servir a diferentes pessoas, dentro de uma determinada gama de estatura e peso, o arquiteto, da mesma forma, tem de fazer portas, vãos, e janelas que sejam adequadas a pessoas de diferentes pesos e estaturas. Por isso, tanto alfaiates quanto o arquitetos deveriam obedecer a um sistema de proporções bem definidas para chegar a resultados que primem pela elegância, seja na produção em massa de roupas, seja na construção de prédios que deverão servir a vários tipos humanos. (ver livro / p. 94)

modulor - sistema de proporções criado por Le Corbusier

As reflexões de Le Corbusier sobre a cultura da elegância clássica masculina não param por aí. Em um texto da década de 50, ele afirma também o seguinte: “O vestuário é a expressão de uma civilização. O vestuário expressa os sentimentos mais fundamentais: através dele mostramos nossa dignidade, nossa distinção ou frivolidade, nossas ambições básicas. Embora padronizada, a roupa masculina não escapa a decisões individuais. Ela, porém, já não é mais adequada. Do que persiste, temos a prova de que a era da revolução nas máquinas ainda não atingiu a maturidade” (ver livro). Le Corbusier parece ter reconhecido que a produção industrial de roupas masculinas somente alcançaria maturidade a partir do momento em que elas fossem produzidas com a aplicação das mesmas proporções harmônicas que conferiram às suas construções a elegância e sobriedade que as tornaram marcos da arquitetura do século vinte.

Talvez seja desnecessário mencionar ainda que além de ter sido um grande arquiteto, Le Corbusier era também conhecido pela elegância e panache com que se vestia...

sábado, 11 de abril de 2009

Adolf Loos: elegância e proporções

arquiteto austríaco Adolf Loos
Adolf Loos foi um dos expoentes do modernismo na arquitetura. Mas o que isso pode ter a ver com a cultura da elegância clássica masculina? Tudo, pois o que Loos pregava para arquitetura, Beau Brummell, antes dele, já pregava para as roupas masculinas: sobriedade, discrição, e proporções bem definidas. Loos, ele próprio, tinha também um grande interesse pela cultura da elegância clássica masculina, tendo escrito vários ensaios sobre sapatos, chapéus, e uniformes britânicos. Esses ensaios foram mais tarde publicados em alemão com o título: "Por que um Homem Deve Estar Bem Vestido" (Warum ein Mann gut angezogen sein soll). Talvez não tenha sido por acaso que Loos tenha projetado também, no início do século XX, uma das mais tradicionais e antigas casas de alfaiataria da Áustria - a Knize.

Um traço distintivo dos projetos de Loos era a total renúncia a ornamentos. Em um livro muito conhecido entre arquitetos, chamado "Ornamento e Crime", Loos defende uma estética da supressão dos ornamentos. Sua idéia era que a beleza de uma construção deveria ser buscada através do estabelecimento de elegantes proporções, e não através do recurso a adereços supérfluos. Esse mesmo princípio ele estende também a uma série de consideração sobre a estética das roupas masculinas, por oposição a das roupas femininas. Enquanto a roupa feminina ganharia beleza pela inclusão de ornamentos, a roupa masculina moderna primaria justamente pela renúncia a excessos, e pela minuciosa atenção às proporções.


sistema de proporções humanas usado por alfaiates -
repare que a altura da cabeça é a unidade métrica básica

As proporções elegantes, no caso das roupas masculinas, são evidentemente aquelas que se estabelecem com as dimensões de quem as veste. Denominar alfaiates os verdadeiros arquitetos da elegância clássica masculina, portanto, não deve ser nenhum exagero...

Alguns dos ensaios de Loos sobre elegância clássica masculiana podem ser lidos aqui.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Ralph Emerson: elegância e tranqüilidade interior

Ralph Emerson 1803-1882
"...a sensação de estarmos perfeitamente bem vestidos nos dá um sentimento de tranqüilidade interior que nenhuma religião é capaz de proporcionar."

Ralph Emerson, escritor e filósofo americano

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Jaquetão: militar e casual

George V / Edward VII / Edward VIII (1906).

O jaquetão (ou double breasted), com suas duas carreiras paralelas verticais de botões, é mais elegante e formal do que o paletó convencional com uma única carreira de botões. Como disse ontem, o tipo de jaquetão mais freqüente é aquele com três botões em cada carreira. Mas há também o jaquetão com quatro botões de cada lado, ou ainda com apenas dois de cada lado. O primeiro é uma prerrogativa da Marinha Britânica. Na foto acima se vêem três gerações da realeza britânica trajando jaquetões de 4 botões em cada carreira vertical: George V, Edward VII, e Edward VIII – que passou a se chamar Duke of Windsor após abdicar o trono em 1936. Edward VII e seu neto, o Duke of Windsor, foram, cada um em sua época, ícones da elegância clássica masculina.

Duke of Windsor e Wallis Simpson

Muitas fotos das décadas de trinta e quarenta retratam o Duke of Windsor vestindo jaquetões com apenas dois botões em cada carreira vertical. Em suas memórias, o duque lembra que uma de suas primeiras medidas, após o falecimento de George V, em 1936, foi abolir parte da formalidade dos trajes corte. A opção pelo double breasted com apenas dois botões em cada carreira vertical era mais uma forma de se opor à pompa da corte, conferindo ao duque o ar de casualidade e nonchalance que fizerem dele um verdadeiro ícone da elegância clássica masculina.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Jaquetão ou "double breasted"

Príncipe Charles

Um paletó apresenta ou uma única carreira de botões (ou mesmo um único botão), ou duas carreiras verticais paralelas de botões. O segundo tipo é chamado double breasted, mais conhecido em português como “jaquetão”. Paletós desse segundo tipo contêm ou dois, ou três botões em cada carreira vertical. Quatro botões em cada carreira são reservados, de modo geral, aos uniformes da Marinha Britânica. Os jaquetões mais freqüentes são aqueles que possuem três botões em cada carreira vertical. Na verdade, nesse caso, as duas carreiras não são perfeitamente paralelas, uma vez que os dois botões superiores de cada carreira vertical estão mais distantes um do outro do que os demais botões. De modo esquemático, a disposição dos botões de um double breasted é a seguinte:



Apenas os dois botões inferiores do lado esquerdo de quem contempla o paletó são funcionais; os demais servem para conferir
ao paletó a impressão de simetria. Uma vez que a parte frontal esquerda do paletó se abotoa sobre a parte frontal direita, resultando portanto em duas camadas de tecido quando abotoado, o double breasted é um pouco mais quente do que o sinlge breasted, seu primo bem mais convencional com uma única carreira de botões. Repare que a lapela do jaquetão é necessária e incondicionalmente ascendente em sua forma, como se estivesse apontando para o alto, diferentemente da lapela de um single breasted.

Se andar por aí com um paletó convencional inteiramente desabotoado já é dar mostras de deselegância, andar com um jaquetão completamente desabotoado constitui crime de lesa estética, pois a parte frontal do paletó ficará oscilando como as duas metades de uma cortina ao vento.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Gola do paletó


Assim como o punho da camisa não deve desaparecer sob a manga do paletó, a gola da camisa, pelas mesmas razões, não deve desaparecer sob a gola do paletó. Cerca de um centímetro e meio da gola da camisa deve estar visível. É importante também que a gola do paletó assente sobre a gola da camisa, sem que se forme um vão entre uma e outra. Na ilustração acima, as figuras (1) e (3) mostram a gola do paletó excessivamente alta, e excessivamente baixa, respectivamente. Como muitas outras coisas na vida, prefira um meio termo, ilustrado aqui pela figura (2).

Na confecção de um terno sob medida é tarefa de seu alfaiate garantir que essas proporções sejam respeitadas. É então durante as provas que todos os ajustes necessários são feitos. Na aquisição de um terno comprado pronto, não importa seu preço, material, ou renome do fabricante, se o paletó não se ajustar ao seu torso segundo essas proporções, e se o vendedor não puder garantir que os devidos ajustes sejam feitos, o paletó simplesmente não lhe serve. Jamais se deixe seduzir pelo preço de um paletó que não corresponde às reais proporções de seu corpo, pois o crédito positivo em suas finanças será debitado em dobro da conta de sua imagem pública.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Manga do paletó

Como a maior parte dos ternos que se vestem por aí são comprados prontos, e como, além disso, os ajustes a que eles são submetidos são mínimos, o que se vê, de modo geral, é uma infinidades de ternos cujas proporções são dissonantes com as proporções de quem os veste. Um ponto onde a dissonância é especialmente freqüente e flagrante é a manga do paletó. A maior parte dos homens veste paletós com mangas muito longas, encobrindo totalmente o punho da camisa. Em um soneto, a última sílaba de um verso às vezes rima com a última sílaba de um verso que somente aparecerá duas ou três linhas depois, mas é isso justamente que confere cadência ao poema. Em um terno, o princípio estético é o mesmo: a gola e o punho da camisa, visualmente separados pelo paletó, devem “rimar”. Mas para que isso ocorra é necessário que o punho da camisa não seja engolido pela manga do paletó.

Mangas de paletó excessivamente longas são tão freqüentes, que por vezes pode se tornar um transtorno ter de convencer um vendedor, ou mesmo seu alfaiate, de que entre um e dois centímetros do punho da camisa devem estar visíveis sob a manga do paletó.

domingo, 5 de abril de 2009

“Sob medida” vs. “Feito para medir”


Deve estar claro que um terno feito inteiramente sob medida é incomparavelmente superior a um terno comprado pronto, contanto, evidentemente, que o material utilizado seja de qualidade, e seu alfaiate tenha feito todos os ajustes para que o terno tenha um caimento impecável. De um terno sob medida o que se espera é que ele se ajuste ao seu corpo, e não que seu corpo se ajuste a ele. À exceção talvez dos modelos de propaganda, cujas fotos geralmente recebem toda sorte de maquiagem digital, ninguém conta realmente com um corpo simétrico, de proporções apolíneas. O terno sob medida torna discretas aquelas desproporções e assimetrias que um terno comprado pronto apenas tende a acentuar.

Ocorre, no entanto, que nem todo terno “sob medida” é realmente um terno “sob medida”. E agora é preciso inventar em português expressões que já se consolidaram em outras línguas. Explico-me: em inglês, “sob medida” se chama bespoke, porque o alfaiate combina com seu cliente todas as características que o terno deve ter. Mas existe um outro tipo de serviço que, embora similar, recebe em inglês um outro nome: made to measure (“feito para medir”, ou “personalizado”). O terno "feito para medir" é na verdade um terno de fabricação industrial, mas produzido a partir de algumas especificações feitas pelo cliente, incluindo suas medidas. Nesse caso, não há propriamente o envolvimento de um alfaiate, encarregado de desenhar um molde e de acompanhar todas as provas. Na verdade, na confecção de um terno “feito para medir” abre-se mão de todo o processo de provas sucessivas, que são indispensáveis na confecção de um terno “sob medida”. Como o modelo que é utilizado na fábrica é um modelo padrão, não se deve esperar, no caso do terno “feito para medir”, que ele se modele ao corpo do cliente como um autêntico terno “sob medida” se ajustaria.

Algumas lojas oferecem a seus clientes ternos "feitos para medir" como se fossem autênticos "sob medida". Até mesmo na Inglaterra tem havido litígios sobre o uso das expressões bespoke e made to measure (ver reportagem). Na dúvida sobre se o terno que lhe é oferecido em uma loja é, de fato, “sob medida”, e não “feito para medir” (ou "personalizado"), pergunte se um alfaiate traçará o molde, e quantas provas serão necessárias. A promessa de que você estará livre do “incômodo” das provas, e de que o terno estará pronto em poucos dias, é um indício de que o terno em questão é “feito para medir”, e não “sob medida”.

sábado, 4 de abril de 2009

Alfaiates: arquitetos da elegância (IV)


Uma vez que as diversas partes que compõem o terno tenham sido cortadas, elas serão montadas, provavelmente por uma pessoa diferente daquela que tirou suas medidas, traçou o molde, e cortou o tecido. Nessa etapa preliminar, o que importa é produzir uma versão provisória do paletó, para saber como ele se ajusta ao seu corpo. Por essa razão, o paletó ainda estará sem as mangas e sem a gola; os pontos de linha que unem as partes serão feitos de modo esparso, com uma linha diferente da cor do tecido. Seu alfaiate lhe telefonará então chamando para a primeira prova do terno. Trata-se de um momento sublime, pois até então o terno só existia na sua cabeça. Durante essa fase, ainda é possível fazer uma série de modificações no paletó.


É importante que, durante as provas, você se mantenha de pé naturalmente, com a postura que considera sua postura normal. Resista à tentação de estufar o peito, projetando no espelho uma imagem mais idealizada do que real de você mesmo. Do contrário, o paletó corresponderá a proporções diferentes daquelas que você realmente tem em circunstâncias de espontaneidade e descontração.


É praticamente impossível produzir um paletó unicamente com as medidas que foram tomadas e passadas para o molde, sem fazer pelo menos três provas. (A confecção da calça é bem menos complexa). É durante as provas que são feitos os ajustes que tornam o terno sob medida incomparavelmente superior ao terno comprado pronto. É também durante as provas que vem à tona a habilidade e o estilo de seu alfaiate. Se um mesmo molde fosse usado por dois alfaiates diferentes, os resultados finais, após as provas, seriam também bastante diferentes um do outro.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Alfaiates: arquitetos da elegância (III)

O contorno do molde é traçado diretamente sobre o tecido com um giz de alfaiate. Geralmente se corta cada parte do terno com uma pequena margem de folga. Isso permite que pequenos ajustes sejam feitos no futuro, caso o cliente venha adquirir peso.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Alfaiates: arquitetos da elegância (II)


Uma vez que as medidas para o seu terno tenham sido tomadas, é preciso então escolher o material da construção: o tipo de tecido. As opções são diversas: linho, lã, algodão, mohair, vicuña, shantung... A essa altura deve estar claro que um gentleman jamais escolherá uma fibra sintética para a confecção seu terno sob medida. A palavra "polyester" simplesmente não faz parte do seu vocabulário. Afinal, quem gostaria de morar em uma casa feita de plástico... Ao escolher o tecido (muitos alfaiates preferem a expressão "fazenda"), é preciso também levar em consideração sua cor, padronagem e, evidentemente, seu peso, conforme se tenha em mente um terno mais para o verão, para o inverno, ou para o período entre estações. Outro fator que se deve levar também em consideração é se o terno será utilizado na cidade, em ocasiões mais formais, ou em regiões de veraneio ou a passeio.

Em seguida, você vai para casa, e seu alfaiate começará então a traçar a planta da construção: o molde. Como uma planta de arquiteto, o molde é desenhado em papel, e, com sorte, ficará ainda vários anos em poder de seu alfaiate. Com o tempo, às vezes são necessários pequenos ajustes no molde, mas ele será basicamente o mesmo a ser empregue na execução de seus próximos projetos sartoriais.